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Medicamentos que prolongam o intervalo QT: um risco silencioso para o coração

O intervalo QT no eletrocardiograma (ECG) representa o tempo entre o início da despolarização ventricular e o fim da repolarização. Em termos práticos, é o tempo que o ventrículo leva para se preparar para um novo batimento.


Quando esse intervalo é prolongado, o risco de arritmias ventriculares perigosas, como a Torsades de Pointes, aumenta consideravelmente — podendo evoluir para fibrilação ventricular e morte súbita.


O que muitos profissionais subestimam é que diversos medicamentos de uso comum podem causar esse prolongamento ao longo do tempo, especialmente quando combinados, em doses acumulativas, ou usados em pacientes com comorbidades cardíacas e distúrbios eletrolíticos.


Neste artigo, vamos entender:


·       O que é o prolongamento do intervalo QT

·       Quais classes de medicamentos estão envolvidas

·       Por que o risco é progressivo e acumulativo

·       Como prevenir eventos adversos

 

O que significa prolongamento do intervalo QT?


O intervalo QT corrigido (QTc) é um dos parâmetros mais importantes da avaliação elétrica do coração. Ele é ajustado pela frequência cardíaca e, em geral, considera-se:


·       Normal: QTc < 440 ms (homens) ou < 460 ms (mulheres)

·       Limítrofe: QTc entre 440–500 ms

·       Prolongado: QTc > 500 ms → risco elevado de arritmia


O prolongamento do QT pode ser congênito (Síndrome do QT Longo) ou adquirido, e o principal fator adquirido são medicações que interferem na repolarização cardíaca, bloqueando os canais de potássio (HERG).

 

Principais classes de medicamentos que prolongam o QT


1. Antiarrítmicos

·       Amiodarona

·       Sotalol

·       Dofetilida

·       Procainamida

·       Quinidina


2. Antibióticos

·       Macrolídeos (azitromicina, claritromicina, eritromicina)

·       Fluoroquinolonas (levofloxacino, ciprofloxacino)

·       Antifúngicos (fluconazol, voriconazol)


3. Antipsicóticos

·       Haloperidol

·       Ziprasidona

·       Quetiapina

·       Risperidona


4. Antidepressivos

·       Citalopram (elevado risco em doses > 40 mg)

·       Escitalopram

·       Amitriptilina (tricíclicos)

·       Fluoxetina


5. Antieméticos

·       Ondansetrona

·       Domperidona

·       Metoclopramida (em altas doses ou uso prolongado)


6. Opioides e analgésicos

·       Metadona (especialmente em uso crônico)


7. Outros

·       Loperamida (doses elevadas)

·       Tacrolimo

·       Inibidores de tirosina-quinase (oncologia)

·       Hidroxicloroquina (uso off-label na COVID-19 intensificou atenção ao QT)

 


Por que o risco aumenta com o tempo?


O prolongamento do QT por medicação nem sempre é imediato. O risco é progressivo e multifatorial, podendo se intensificar com:


·       Acúmulo da droga no organismo (meia-vida longa)

·       Polifarmácia (soma de fármacos com ação semelhante no canal HERG)

·       Interações medicamentosas que inibem metabolismo (ex: inibidores do CYP3A4)

·       Disfunções hepáticas ou renais (acúmulo da droga)

·       Hipocalemia, hipomagnesemia, bradicardia — fatores que potencializam o efeito pró-arrítmico

·       Idade avançada e cardiopatias pré-existentes


Em muitos casos, o paciente já usa um desses medicamentos cronicamente, e a adição de outro pode ser o “gatilho” para a arritmia.


Papel do enfermeiro na prática clínica


1. Reconhecer os medicamentos de risco


O enfermeiro que administra medicamentos com potencial de prolongar o QT precisa saber identificar esses fármacos, principalmente quando há associação com outros de efeito semelhante.


2. Monitorar eletrólitos e função renal


O enfermeiro deve acompanhar os exames laboratoriais de:

·       Potássio (ideal > 4,0 mEq/L)

·       Magnésio (ideal > 2,0 mg/dL)

·       Creatinina e função hepática


Distúrbios nesses parâmetros aumentam significativamente o risco de arritmias induzidas por medicamentos.


3. Observar sinais clínicos precoces


Os sinais iniciais de toxicidade cardíaca podem ser sutis. Fique atento a:

·       Palpitações

·       Tontura ou pré-síncope

·       Sudorese fria

·       Queda da PA após administração de fármacos de risco

·       Alterações no padrão do ECG (em pacientes monitorizados)


4. Solicitar ECG quando indicado


O enfermeiro pode sugerir ao médico a realização de um eletrocardiograma de controle quando:

·       Há uso associado de fármacos com potencial para prolongar o QT

·       O paciente apresenta fatores de risco (idade, IC, DRC)

·       Sinais clínicos compatíveis com arritmia


5. Educar a equipe e o paciente


O enfermeiro pode orientar colegas e pacientes sobre:

·       A importância de não associar medicamentos sem prescrição

·       A necessidade de manter eletrólitos em níveis adequados

·       Os sintomas que exigem avaliação imediata


6. Notificar e registrar


Ao identificar qualquer suspeita de reação adversa ou risco iminente:

·       Notifique a equipe médica

·       Registre no prontuário

·       Se necessário, acione a farmacovigilância hospitalar

 

Conclusão


O prolongamento do intervalo QT não é apenas uma questão médica — é uma responsabilidade multiprofissional.


Na linha de frente, o enfermeiro atua como sensor clínico, sendo o primeiro a administrar, observar e reagir aos efeitos dos medicamentos. Conhecer os riscos, monitorar os sinais e se posicionar com conhecimento técnico é o que diferencia o profissional preparado do profissional passivo.


Atualize-se, observe, questione, oriente.O cuidado com o coração do paciente também passa por você.


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